O chefe da agência nuclear da ONU alertou, nesta terça-feira (27), sobre o risco de um acidente grave em uma usina nuclear russa devido aos combates entre forças russas e ucranianas nas proximidades.
Rafael Grossi, diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica, falou após visitar a usina na região de Kursk, no oeste da Rússia, onde as forças ucranianas cruzaram a fronteira há três semanas e a Rússia está lutando para expulsá-las.
“O perigo ou a possibilidade de um acidente nuclear cresceu por aqui”, disse Grossi aos repórteres.
“Vemos a usina ainda operando, mas, ao mesmo tempo, o fato de a usina estar operando pode ficar ainda mais sério em termos de uma eventual ação contra ela”, disse ele.
“Quando uma usina está operando, a temperatura é muito mais alta e, se houvesse um impacto ou algo que pudesse afetá-la, haveria consequências sérias.”
O presidente Vladimir Putin acusou a Ucrânia na semana passada de tentar atacar a usina de Kursk, que tem quatro reatores soviéticos RBMK-1000 moderados a grafite — os mesmos da usina nuclear de Chernobyl, que em 1986 se tornou o cenário do pior desastre nuclear civil do mundo.
A Ucrânia ainda não respondeu às acusações de que atacou a instalação.
“Fui informado sobre o impacto dos drones. Me mostraram alguns dos restos deles e sinais do impacto que eles tiveram”, disse Grossi, sem dizer quem foi o responsável.
Grossi disse que a instalação não tinha a cúpula de contenção e a estrutura de proteção típicas da maioria das usinas nucleares atuais.
“Isso significa que o núcleo do reator contendo material nuclear é protegido apenas por um teto normal. Isso o torna extremamente exposto e frágil, por exemplo, a um impacto de artilharia ou de um drone ou de um míssil”, disse ele.
“É por isso que acreditamos que uma usina nuclear desse tipo, tão perto de um ponto de contato ou de uma frente militar, é um fato extremamente sério que levamos muito a sério.”
Grossi disse que seria um exagero igualar Kursk a Chernobyl, onde um acidente causou uma explosão que lançou uma nuvem radioativa sobre partes do leste da Europa.
“Mas este é o mesmo tipo de reator e não há proteção específica. E isso é muito, muito importante. Se houver um impacto no núcleo, o material está lá e as consequências podem ser extremamente sérias.”
Grossi disse que o objetivo de sua visita era chamar a atenção do mundo para a situação e dizer que: “Basicamente, nunca, jamais, uma usina nuclear deve ser atacada de forma alguma”.